RESENHA HISTÓRICA DA ITA

 

Por ausência de organização representativa própria, estiveram os industriais de preparação de tripa, por afinidade, enquadrados desde 1971 a 1974 no ex -Grémio Nacional dos Industriais de Carnes, e de 1975 a 1977, por sucessão daquele Organismo, na Associação Nacional dos Industriais de Carnes.

A especificidade do sector de preparação de tripa e as características profissionais dos seus trabalhadores, bem distintas das da indústria de carnes, há muito que fazia sentir a necessidade da constituição de uma organização de classe para defender directamente os seus interesses.

Foi nesse sentido que, em reunião geral de 24 de Novembro de 1977, os industriais do sector decidiram por unanimidade constituir a ITA – Associação Portuguesa dos Industriais de Tripas e Afins, cujos estatutos foram publicados no BTE nº 8, I Série, de 18.02.1978, tendo simultaneamente sido constituída uma Comissão Directiva que pôs em marcha o funcionamento da Associação que fixou a sua sede nas instalações da ANIC sitas na Av. Guerra Junqueiro, 11-1º DRtº,  em Lisboa. Essa Comissão Directiva tinha a seguinte composição:

Carlos Rosinha (Alandal, Lda.)

Manuel Amaro de Almeida (PPT - José Faustino Teixeira)

Manuel dos Santos Moura (Manuel dos Santos Moura, Lda.)

Robert Geallad (Geallad, Lda)

Gerhardus te Riele (Vaessen, Lda.)

A Associação tem âmbito territorial nacional, sendo formada pelas empresas singulares e colectivas que exerçam a indústria de tripas e afins, podendo dela fazer parte as empresas com actividade de transformação e aproveitamento de subprodutos animais e respectiva comercialização.

O primeiro destes sectores caracteriza-se, particularmente, pela utilização de mão-de-obra nacional na laboração da matéria prima na sua grande maioria importada para posterior exportação.

 

O segundo, originando um produto final da actividade desenvolvida (gordura fundida e farinha de carne e osso), o mesmo é absorvido na grande totalidade pelo mercado nacional, nomeadamente pela indústria de sabões e margarinas e pela de alimentos compostos para animais, esta última, no entanto e ainda com grandes restrições a nível sanitário, mesmo proibição, devido ao problema da BSE).

No âmbito dos seus Estatutos,  são objectivos da Associação a defesa e promoção dos interesses dos seus associados e, entre outros, representar os sócios perante a Administração Pública e outras entidades, assim como celebrar convenções colectivas de trabalho, intervindo na sua execução.

Com três anos de existência em 1981 e na sequência dos contactos e boas relações já existentes  entre alguns empresários e a ENSCA, foi decidido solicitar a filiação da ITA naquela Associação Europeia, com a qual foi mantida, desde então, elos de estreita colaboração e relacionamento.

No sentido da organização das relações laborais a nível nacional do sector, surgiu em 1985, a 1ª negociação do CCT para a Indústria de Tripas, celebrado entre a ITA, a FESAHT e os Sindicatos do Norte e Sul dos Trabalhadores em Carnes.

Refira-se que, em 1976 (portanto antes ainda da constituição da Associação), já existia um acordo colectivo de trabalho para os trabalhadores da indústria de tripa do Distrito do Porto, celebrado entre o Sindicato do Norte dos Trabalhadores em Carnes e as empresas    A. de Lha Lave, Lda., Manuel dos Santos Moura, Lda. e Vaessen, Lda.

Aquando da criação da Associação e, apesar de pequeno sector, a Indústria contava já com algumas empresas bem apetrechadas e profissionalizadas, representando o seu conjunto um factor significativo no contexto da actividade económica.

O espírito de continuada dinamização do sector que na altura se verificava, aliado ao seu grande interesse de acompanhar a análise da evolução da problemática mundial da actividade, levou os seus dirigentes de então a decidirem que a ITA se habilitasse à realização em Portugal (Hotel Ritz) da importante Convenção da ENSCA 88, facto que ficou positivamente marcado, não só pelo êxito da sua organização, como pelo impacto que teve aos olhos dos muitos participantes internacionais que elogiaram o evento.

De registar que, com grande empenho e espírito de colaboração  a organização e todo o trabalho que este importante acontecimento envolveu, esteve a cargo da D. Donzília Saldsieder (presidente da Assembleia Geral – Aisal), Sr. Robert Geallad  (Presidente da Direcção-Portripas), D. Ana Paula Almeida (Vogal da Direcção-Sultripas) e Sr. Honorato de Sousa (ex-Presidente da Direcção-Contripe).

Na linha da referida evolução e interesse, a ITA filiou-se na ENSCA em 1989, mantendo essa condição até 2003.

Por sua vez, e seguindo a vontade própria manifestada pelos associados da actividade de transformação de subprodutos, a ITA, também no mesmo ano, filiou-se na UNEGA, Associação Europeia representativa deste sector, a qual deu depois lugar a outra entidade a EFPRA a partir de 2002 onde ainda permanece.

Como breve referência sectorial, é de notar que, embora estando no seu auge de actividade em número de empresas por altura dos anos 80, esta industria tal como a das carnes, entrou numa fase de profundas alterações estruturais importantes por força da saída de nova legislação regulamentadora a partir de 1984, já no âmbito do processo de adesão de Portugal à CEE (esta teve lugar em 1986) com exigências apertadas no campo higiossanitário e também ambiental com as consequências de adaptação daí resultantes.

O impacto de tais exigências, aliado à evolução económica dos respectivos mercados, não só a nível da matéria prima como da mão-de-obra,  colocou uma boa parte das empresas em situação extremamente difícil de sobrevivência que veio a ter reflexos negativos e progressivos no conjunto desta actividade como prova o desenvolvimento  que se verificou até ao presente.

Ora, contando na altura o sector com 22 empresas em laboração com cerca de 1.500 trabalhadores, aquele número veio continuamente a baixar, tendo, no decurso de 15 anos (1989 a 2004) sido reduzido em 50%. Actualmente existem 11 empresas com o total de 800 trabalhadores.

No que respeita à Indústria de Transformação de Subprodutos Animais, este ramo de actividade chegou a ter 9 empresas em laboração, mas, pelas mesmas razões de exigência normativa legal imposta, várias unidades acabaram por encerrar face à impossibilidade de adaptação ou mesmo inviabilidade económica, existindo actualmente apenas 3, o que corresponde uma redução de 77%.

Este ramo de indústria concentrado nas referidas 3 empresas teve um grande desenvolvimento tecnológico , não só por via do cumprimento da legislação atrás citada, como pelas medidas drásticas tomadas a partir de 1998 devido à BSE, que obrigaram este tipo de unidades industriais a fazer mais e maiores investimentos para dar resposta, inicialmente a compromissos assumidos com o Governo e depois (como é o caso actual) com todos os agentes económicos, especialmente matadouros, ao complexo problema da destruição dos resíduos animais, com responsabilidade em todo o circuito envolvente (recolha, transporte, transformação e eliminação).

 Devido às suas características (expressiva utilização de pessoal na área do transporte de mercadorias) e se bem que, com um impacto económico muito significativo visto que trabalha a grande maioria dos resíduos animais produzidos no País, este sector nunca atingiu um número de trabalhadores superior a 300. As 3 empresas actualmente em actividade ocupam cerca de 200 postos de trabalho mas há a ter em conta que uma delas, por ter outras actividades, possui mais de 100 trabalhadores.

 

Estas empresas, sob a responsabilidade organizativa da Sebol, S.A., e uma vez que a ITA não tem recursos para tal, já promoveram dois congressos da EFPRA em Portugal (Algarve).

 

Em relação ao percurso directivo da ITA, a eleição dos primeiros Corpos Gerentes da Associação, ocorreu em 9 de Maio de 1978, sendo a Direcção composta pelos seguintes elementos:

 

Presidente: Honorato de Sousa (Contripe, Lda.)

Secretário : Robert Geallad (Portripas, Lda.)

Tesoureiro: António Camilo Branco (IPT, Lda.)

Vogais        : Gerhardus te Riele (Vaessen, Lda.)

                  Manuel dos Santos Moura (Manuel dos Santos Moura, Lda)

 

Com esta primeira Direcção foi iniciado o ciclo de mandatos que até hoje teve a seguinte ordem cronológica:

Mandato

Presidente da  A.  Geral

Presidente da Direcção

1978-1981

Valdemar Saldsieder (Aisal, Lda)

Honorato de Sousa (Contripe, Lda.)

1981-1984

Idem

Idem

1984-1987

Donzília Saldsieder (Aisal, Lda.)

Robert Geallad (Portripas,Lda.)

1987-1990

Idem

Idem

1990-1993

Idem

Idem

1993-1996

Robert Geallad (Geallad, Lda.)

Valentim Nunes (KHI-Tripas Portugal Lda)

1997-2002

Idem

Rui Gomes (Intripas,Lda)

2002-2005

Dr. Vitor Aguiar (Dat-Schaub Porto, Indústria Alimentar S.A.)

Rui Gomes (Ribatripas, Lda.)

2005-2008

Otília  Gonçalves (Gonçalves & Cª,Lda.)

Dr. Vitor Aguiar (Dat-Schaub Porto, Indústria Alimentar S.A.)

 

 

 

 

 

 

 

 

Nota Final:

Por terem marcado a vida associativa da ITA e, uma vez que, infelizmente, já não se encontram entre os vivos, uma palavra de grande apreço aos empresários e dirigentes saudosos amigos Srs. José Faustino Teixeira, Manuel Amaro de Almeida, Robert Geallad e Waldemar Saldsieder, realçando o facto de um deles (José Faustino Teixeira) ter sido, de entre os portugueses, o pioneiro da actividade de preparação de tripa e portanto uma referência do sector em Portugal.

E estão passados 28 anos após o nascimento da ITA.

J. Giga/Dezembro de 2005